Hi folks!
Uma das minhas maiores paixões é a literatura, e criei o blog com o intuito de dividir um pouco dessa paixão, escrever resenhas, dar dicas de livros e etc. Mas até agora ainda não tinha postado nada do assunto. Ainda bem que tudo tem uma primeira vez, não é? Além disso, aproveito esse post para divulgar o Clube do Livro Nacional, em que vários autores brasileiros se juntaram para divulgar, conhecer livros nacionais e discutir sobre eles. O objetivo é dar mais visibilidade aos autores brasileiros, que são numerosos, mas pouco divulgados. Quem se interessar, pode participar do grupo no Facebook.
Sobre Cartas para você:
O livro é da jovem escritora brasileira Duda Razzera, que mora aqui em Florianópolis, foi lançado esse ano e é uma ficção com um toque autobiográfico. Não é muito grande, a leitura é super fácil e até a capa chama a atenção, porque é linda e já dá o clima da história. A narrativa em formato de carta/diário deixa mais pessoal e o leitor sente como se conhecesse a Georgia desde sempre. A Duda é blogueira também, e quem se interessar, pode seguir os blogs dela Cartas para você e Dia de Maria.
A história retrata a vida de Georgia Castro, uma menina mulher em seus
vinte e dois anos que acabou de perder o pai. Inconformada com a morte
de seu pai - e também melhor amigo, Georgia entra em depressão. Sua
psicóloga aconselha-a a escrever para o seu pai ou manter um diário pois
Georgia gosta muito de escrever. A partir daí, Georgia começa a
escrever cartas para a Aceitação, pedindo para que ela bate à sua porta.
As cartas são uma espécie de diário e Georgia trata a Aceitação como sua
confidente. Ela conta sobre a história de amor de seus pais, sobre a
história de sua família, o falecimento de seu pai e as intrigas em
família que decorreram do falecimento.
Além da questão familiar e do processo de luto, Georgia também desabafa
sobre sua vida amorosa, pois o cara de quem gostava não quis mais ficar
com ela após a morte de seu pai. Com mais essa perda, ela começa a
lembrar do péssimo ex-namorado que marcou muito a vida dela e da
sucessão de casos amorosos mal sucedidos depois dele.
Tentando seguir a vida, Georgia termina a faculdade de Economia e conta
sobre a formatura, o primeiro emprego, suas saídas com os amigos e novos
amores.
Basicamente, Cartas para você conta o processo de superação da morte de
seu pai, sobre amadurecer e confiar em si mesma para tomar as decisões e
acima de tudo, voltar a viver mesmo sentindo saudade.
Aceitação.
É isso que Georgia
procura após a morte de seu pai. Aconselhada pela sua psicóloga, ela começa a
escrever cartas para a Aceitação, contando seus sentimentos, seus problemas,
falando sobre seu pai e a perda dele e tudo o que mudou em sua vida depois
disso, inclusive os problemas com sua
mãe e irmã (e o novo relacionamento que nasceu entre elas), sua péssima sorte
para namorados e as aventuras em seu novo emprego.
Li algumas resenhas em
que as meninas disseram que choraram mais lendo esse livro do que lendo A Culpa
é das Estrelas. Bom, eu não chorei lendo A Culpa é das Estrelas porque é uma
história falsa. Não consegui acreditar nem por um minuto no drama inteiro. Mas
com Cartas pra você foi diferente. Não só eu acreditei na Georgia como eu me
identifiquei completamente com ela. Eu sou
a Georgia. Lendo a história dela, não consegui deixar de comparar com a minha. E,
no fim, esse é o objetivo de um livro, não é? Fazer com que o leitor se
identifique com os personagens.
Quando o Wesley,
namorado da escritora e frequentador da biblioteca que eu trabalho, me falou
desse livro, pensei na hora "alguém que entende, alguém que também passou
por isso e superou, ou está superando o suficiente para escrever um livro sobre
isso... Eu preciso ler". Então, comprei o livro com ele e meu exemplar tem
uma dedicatória da Duda (linda, não é? *-*).
Como eu já disse, quando
comecei a leitura, não consegui deixar de comparar as histórias. É engraçado
como tudo é tão absolutamente igual, mas tão completamente diferente ao mesmo
tempo. E isso nem faz sentido.
Eu nem tinha feito 20
anos ainda. Georgia tinha 22.
O pai dela morreu em
uma cirurgia super arriscada. O meu fez uma cirurgia arriscada que deu super
certo, mas os antibióticos não foram fortes o suficiente.
Ela mora com a mãe e a
irmã e tem um grupo de amigos que lhe dão conselhos sobre isso. Eu moro a 443
km da minha mãe e do meu irmão, e mal falo sobre isso com o meu próprio
namorado, que mora comigo e, até um tempo atrás, trabalhava comigo
Talvez essa seja a
maior diferença de todas entre nós. Georgia está procurando a aceitação. Eu
não.
Lendo o livro, eu estava
praticamente lendo a minha vida
Ela fala sobre ter dias
bons e dias ruins. E é assim que eu conto os meus dias: se o número de dias
bons supera o de dias ruins, então tenho uma coisa a comemorar.
E foi lendo o livro
que, assim como Georgia, percebi pequenas coisas que mudaram em mim. Eu era uma
pessoa que não ligava para datas, nunca sabia o dia, tinha que pensar para
lembrar o mês e vivia escrevendo o ano errado. Agora eu sempre sei o mês porque
parece que ele está ali rindo da minha cara; cada vez que vejo que estamos no
mês 8, lembro que estou a 8 meses sem meu pai. E enquanto Geórgia tem problemas
com o dia 18, o meu é 27. Acho que este ano está passando rápido porque conto
os dias como "ainda falta muito para o dia 27", "falta pouco
para o dia 27", "dia 27", e "consegui passar pelo dia
27". E então começa tudo de novo.
Eu costumava ser uma
pessoa fácil de conversar, ria por qualquer coisa e adorava estar em grupo
falando sobre banalidades. Agora não tenho assunto com ninguém, muitas vezes
meu riso não engana nem a mim mesma e evito ficar no meio de muita gente (mas
estou começando a melhorar com isso, eu acho).
Aí quem está lendo isso
pode estar pensando "Ai que saco. Tudo isso porque tu perdeu o pai? A vida
segue!"
Eu sei que a vida
segue. Mas até agora não entendi como
a vida segue. Meu pai não está aqui, então como o mundo continua girando? Como
posso tomar decisões? Como as coisas continuam acontecendo a minha volta sem
ele aqui para influenciar? Em diversos trechos do livro a Duda traduz com
perfeição esse sentimento, mas escolhi apenas um para integrar essa resenha:
"Eu conheci várias
pessoas novas que meu pai nunca vai saber da existência delas, como meus
colegas de trabalho. E, consequentemente, ele nunca vai poder me aconselhar
sobre elas ou meu atual trabalho.
Essa realidade me parte
ao meio, me despedaça.
A realidade de que as
pessoas conseguem viver normalmente em um mundo onde meu pai não existe. A
realidade de que eu tenho que fazer isso também, pelo meu próprio bem. Tenho
que andar com as minhas pernas, pensar com a minha cabeça e trabalhar com a
minha experiência.
É difícil ser só uma
pessoa, quando antes eu era duas.
Era como se meu pai
fosse uma extensão de mim, era dele que vinha minha força e energia, ele era
meu gerador. E agora acabou a luz. Será que você, querida Aceitação, poderia me
emprestar uma caixa de fósforos e uma vela?"
Quando Georgia perde o
pai, o namorado termina com ela porque não aguenta esse tipo de coisa. Logo em
seguida, o tio dá uma rasteira nelas e, de certa forma, Georgia perde também a
família.
Fiquei muito triste por
isso ter acontecido com ela, porque, mesmo com meu namorado e minha família do
meu lado, ainda é difícil. Quando tudo aconteceu comigo, meu namorado não foi
embora. Na verdade, ele assumiu a responsabilidade de morar comigo. E sei que
não foi fácil pra ele no início, com todas as noites que não dormi, o humor
inconstante e o silêncio. Eu podia passar dias sem falar uma palavra. E quanto
a família, cada vez que vou pra Caxias quero ver todo mundo, minha vó, tios,
tias, primos e primas e, é claro, ficar cada segundo possível com a minha mãe e
meu irmão. E tem também a família do meu namorado, que me adotou como uma filha
desde o início. Talvez seja por isso que as coisas não estão tão ruins. Apesar
de estar longe, eu tenho muita gente para me apoiar e ainda tenho um namorado
incrível.
E acho que por isso
esse livro foi quase um tapa na cara; apesar de todos os problemas, Georgia
está buscando a Aceitação. Isso não quer dizer que ela vai esquecer que teve um
pai e que não vai mais sofrer por tê-lo perdido. Quer dizer que ela vai se
apoiar no que existe de bom na vida dela, e tentar viver apesar da falta do
pai.
Eu ainda tenho um
caminho muito longo para chegar até a Aceitação, e, quem sabe, talvez eu nunca
chegue lá. No próximo dia 31 de agosto faz 16 anos que perdi minha irmã e ainda
não aceitei isso. Aprendi a viver apesar da falta, aprendi a chorar de noite e
sorrir de dia, mas ainda não aprendi a aceitar.
Não quando e se isso vai acontecer.
Por enquanto, continuo contando os dias ruins e os dias bons.
Por enquanto, continuo contando os dias ruins e os dias bons.